As Melhores do "Vai..."

domingo, 29 de maio de 2011

Homofobia na tribuna, até quando?

Em meio à discussão sobre o cancelamento do kit gay, que seria distribuído pelo Ministério da Educação para combater a homofobia nas escolas brasileiras, o deputado estadual mineiro Antônio Genaro (PSC) usou a tribuna da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para atacar os homossexuais, nos moldes do que fez o deputado federal carioca Jair Bolsonaro (PP). Na reunião de quinta-feira, o parlamentar, pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular, disse que o relacionamento de pessoas do mesmo sexo é “antinatural” e que não quer ter em sua família ou círculo de amigos integrantes do que chamou de “uma classe que faz parte da sociedade, infelizmente”, e faria mal à saúde.

O deputado usou um aparte para dizer que fará um pronunciamento sobre o tema nos próximos dias, mas adiantou a defesa da bancada religiosa, que conseguiu impedir a distribuição do kit gay em troca de livrar o ministro da Casa Civil Antonio Palocci de uma convocação pelo Congresso Nacional. Para ele, os evangélicos estão sendo chamados erroneamente de fundamentalistas religiosos e teriam o mérito de impedir que o material, considerado por eles como incentivador do homossexualismo, chegasse às escolas. “Podem dar o nome que quiserem, mas é graças aos cristãos de verdade que o mundo é uma carne que ainda tem sal para – digamos assim – não apodrecer totalmente”.

Genaro disse que a “gana” pelo voto do homossexual leva governantes, nos níveis nacional e estadual, a quererem agradar a uma classe que “infelizmente” faz parte da sociedade. “Digo infelizmente porque o que os homossexuais têm para ensinar é totalmente antinatural, é contrário à natureza” . De acordo com o parlamentar, o que é antinatural “faz mal para a saúde da pessoa, para a saúde da sociedade, para um povo”. Depois do “desabafo”, o parlamentar ainda completou: “Deus me livre ter na minha família ou entre os meus amigos alguém que se utiliza da sua natureza para exercer o antinatural. É por isso que o mundo vai de mal a pior”.

A fala de Antônio Genaro se assemelha à de Bolsonaro, que ganhou as manchetes ao associar o homossexualismo à “promiscuidade” em rede nacional. O comportamento do parlamentar carioca foi considerado inconstitucional pela Ordem dos Advogados do Brasil, que recomendou à Câmara dos Deputados que abrisse processo contra ele por quebra de decoro e, se for o caso, afaste-o das funções.

Medidas O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, disse que a instituição vai acionar as associações regionais do movimento e os centros de direitos humanos para tomar as “medidas cabíveis” contra o deputado estadual mineiro. “Nossa, como esse deputado evoluiu, porque se fosse na Idade Média ele nos queimava na fogueira”, ironizou. Para além da análise moral, Reis afirma que o parlamentar descumpre artigo da Constituição segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem qualquer tipo de discriminação. “Nós, enquanto gays, lésbicas ou transexuais, somos cidadãos e queremos respeito. Se ele não aceita, é um problema dele, mas vamos tomar as medidas cabíveis para que ele nos respeite enquanto cidadãos. Somos patrões dele, o salário do deputado vem de impostos que também pagamos”, afirmou.

Fonte: Jornal Estado de Minas

sábado, 28 de maio de 2011

ELZA SOARES - SHOW ELZA SAPECA DA BRECA.

I Encontro de Blogueiros Progressistas do Estado do Rio de Janeiro

Da minha Janela!

Da minha Janela!  by michaelrosa13
Da minha Janela! , a photo by michaelrosa13 on Flickr.

Os animais vão se ajustando!! Ninho na antena da telefonia!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Bomba ! Bomba ! Julian descreve Cerra: “Não tem preço” | Conversa Afiada

O Converda Afiada reproduz notável trabalho artístico do Julian Pigleaks , que nutre pelo Padim Pade Cerra admiração pelo Padim Pade Cerra só comparável à deste ansioso blogueiro (e do FHC…).


CHARGE BOMBA: da série “Não Tem Preço”
(será que os homi vão te deixar publicar?)

1 TV passando filme do Padimferatu R$ 200
2 Computadores com o logo da Record News R$ 2.000
1 Ventilador de parede R$ 70
1 Quadro da JK de Saias R$ 1.000
1 Quadro da baiana preferida do barbeiro R$ 1.000
1 Latinha vazia de energético “Cura Ressaca” R$ 6,50
1 Venda cobrindo a visão do dono da barbearia R$ 3,90
1 Solidéu na careca do Padim R$ 77
1 Navalha enferrujada para clientes especiais R$ 55


A cara de desespero do Padim, literalmente nas mãos do sorridente iluminador de mentes …

NÃO TEM PREÇO!


Juliano
Ps. Vai material iconográfico complementar recebido da amiga Paula.



O Padim Cerra foi ao dentista e assistiu filmes clássicos,
http://twitter.com/#!/joseserra_/status/38084932995645440
http://twitter.com/#!/joseserra_/status/60124024189108224

não deu outra, agora vive sonhando com os personagens.

Divirta-se-puder!
Paula


















Bomba ! Bomba ! Julian descreve Cerra: “Não tem preço” | Conversa Afiada

MPF consegue impedir destruição de Mata Atlântica na Região Metropolitana de BH


Justiça Federal concedeu liminar determinando a paralisação das obras de implantação do empreendimento Vila Castela II, em Nova Lima/MG

25/05/2011

Belo Horizonte. A Justiça Federal de Belo Horizonte determinou a paralisação imediata de todas as obras de engenharia e agrimensura, de qualquer natureza, destinadas à implantação do condomínio Vila Castela II, no Município de Nova Lima, situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As obras ficarão suspensas até que seja realizado o devido procedimento de licenciamento ambiental.

A decisão foi dada na Ação Civil Pública n. 4677-71.2011.4.01.3800 ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) em janeiro deste ano. Em caso de descumprimento, os réus estarão sujeitos ao pagamento de multa de 50 mil reais por dia.

A ação informa que o Vila Castela II será implantado no Vale do Mutuca, abrangendo uma área de mais de 600 mil metros quadrados. O empreendimento foi autorizado pela Prefeitura de Nova Lima, ainda que à míngua das necessárias licenças ambientais estadual e federal, com base apenas numa licença de operação corretiva expedida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O problema, segundo o MPF, é que o loteamento foi projetado sobre extensa área remanescente de Mata Atlântica, bioma protegido por legislação federal específica e pela própria Constituição e erigido à categoria de patrimônio nacional.

Diante da inércia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), órgão responsável pela fiscalização, que alegava não possuir atribuições para atuar no caso porque a área atingida seria inferior a três hectares, o MPF requisitou à Polícia Federal (PF) a realização de vistoria no local para elaboração de laudo pericial que apurasse a extensão das atividades de supressão vegetal da Mata Atlântica, bem como o estágio de regeneração em que ela se encontra.

60 ha potenciais de devastação - Os peritos da PF, além de confirmarem que todo o local do empreendimento encontra-se inserido no domínio do bioma, relataram que a “área desvegetada nos limites do projeto do condomínio Vila Castela II é estimada em 8,8 hectares, sendo aproximadamente 4,5 hectares de floresta secundária em estágio inicial de regeneração e/ou campo e aproximadamente 4,3 hectares de floresta secundária em estágio médio de regeneração, com algumas características de estágio avançado de regeneração em certas regiões”.

Eles ainda destacaram que o projeto, da forma como se apresenta na planta, “tem potencial de desvegetação em mais 53 hectares aproximadamente”.

Após o laudo da Polícia Federal, o MPF requisitou novamente ao Ibama a realização de vistoria no local, e, desta vez, o órgão confirmou a existência dos desmates em área de incidência de Mata Atlântica na mesma extensão apontada pela PF. Mas informou também que não teria sido chamado a participar de qualquer processo de licenciamento, o qual estaria ocorrendo atualmente apenas no âmbito estadual.

Para o juiz da 14ª Vara Federal de Belo Horizonte, “não obstante a competência para processar o licenciamento ambiental tenha sido distribuída entre órgãos integrantes do SISNAMA [Sistema Nacional do Meio Ambiente], trata-se de obrigação compartilhada entre órgãos estaduais do meio ambiente e o IBAMA”.

“Assim, não poderia o município de Nova Lima ter expedido as autorizações para desmate apenas com base em licenciamento corretivo levado a efeito pelo órgão estadual sem a participação do IBAMA”, diz.

É o que determinam a Lei 11.428/2006 e o Decreto 6.660/2008, segundo os quais é necessária prévia anuência do Ibama quando ocorrer supressão de vegetação primária ou secundária de Mata Atlântica.

Inércia da fiscalização - A procuradora da República Zani Cajueiro explica que “essa anuência só é dispensada quando a área atingida for inferior a três hectares nos empreendimentos situados em região urbana ou metropolitana. No caso, ficou comprovado que o Vila Castela supera em muito essas limitações. Portanto, o que deveria ter ocorrido era o procedimento normal de licenciamento, sendo certo que, na fase da licença prévia, o Ibama teria de analisar a viabilidade ou não do empreendimento”.

O juiz lembra que “Na verdade, as irregularidades apontadas foram aferidas pelo IBAMA, que, entretanto, nenhuma providência até o momento tomou no sentido de impedir o desmatamento. Nesse ponto, faltou com sua obrigação primordial, a proteção do meio ambiente. Veja-se que os documentos por ele próprio juntados demonstram sua inércia e, mais ainda, expressam, peremptoriamente, a necessidade de sua anuência para supressão de vegetação de Mata Atlântica para implantação do empreendimento Vila Castela II, o que não ocorreu”.

Zani Cajueiro elogiou a decisão judicial. “Vimos lutando há anos pela regularização do Vila Castela. Finalmente, a Justiça Federal , em belíssima decisão, acatou o nosso pedido para impedir que seja concretizado mais um caso de supressão de fragmento significativo desse bioma que é considerado patrimônio nacional”.

Minas Gerais é o que mais desmata - No ano passado, pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Fundação SOS Mata Atlântica divulgada em 26 de maio de 2010 apontou Minas Gerais como o estado brasileiro que mais desmata Mata Atlântica. Entre os anos de 2008 e 2010, foram devastados o equivalente a 12,5 mil campos de futebol.

Os dados são do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que avaliou a mudança na cobertura florestal do bioma mais ameaçado do país (do qual restam apenas 7,9% da vegetação original) em nove Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

No período, foram desmatados 20.867 hectares. Houve queda na média do desmatamento, mas, na contramão, Minas Gerais aumentou sua derrubada em 15% (12.524 hectares).

A Bacia do Jequitinhonha é hoje a mais ameaçada do país.


Assessoria de Comunicação Social
Ministério Público Federal em Minas Gerais
(31) 2123.9008
No twitter: mpf_mg

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Se Bin Laden tivesse sido preso por brasileiros...

1. Os advogados dele teriam que estar presentes na hora da prisão para garantir seus direitos;
2. Todas as escutas seriam consideradas ilegais por não terem autorização de um juiz;
3. Os policias e militares seriam acusados de “abuso de poder”;
4. Em três dias teria um “Habeas Corpus” decretado por irregularidade nas investigações;
5. Por ser réu primário, não possuir outra condenação, ter nível superior e endereço fixo, seria logo posto em liberdade;
6. Por possuir “livre direito de ir e vir” seria liberado para visitas à Meca;
7. Pelo direito de “ampla defesa” alocaria milhares de testemunhas a seu favor;
8. O processo levaria uma década com ele em “liberdade provisória”;
9. Condenado a pena máxima de 35 anos, cumpriria 1/6 como manda a lei;
10. Durante o cumprimento da pena de cerca de cinco anos, poderia receber visitas das suas cinco esposas e seria liberado para sair nos feriados, inclusive no Natal (!);
11. Depois de alguns meses preso, um Juiz decretaria que a prisão dele é ilegal por não constar Terrorismo no nosso Código Penal;
12. E por último, para não manchar a imagem do Brasil junto ao mundo, ele sofreria a terrível punição de doar 10 cestas básicas para as Obras Assistenciais de Irmã Dulce.
Pronto:
Justiça feita como mandam nossas leis!
E ainda :
Salário mensal para os filhos dele, caso fosse preso. De 870,00 e viva o Brasil!!!

Ninguém quer mais comprar computador

Por The New York Times
FOTO: PAUL SAKUMA/AP

Por Verne G. Kopytoff e Laurie J. Flynn (NYT)

Por um lado, o consumidor apertou o cinto após a crise de 2008. Por outro, esse mesmo consumidor foi correndo comprar um tablet. Some a esses dois lados a falta de inovação e temos aí os esses três fatores responsáveis pela notável queda na venda de desktops para pessoas físicas (não entram nessa conta PCs comprados por empresas).

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As duas maiores fabricantes mundiais de computadores pessoais, Hewllet-Packard (HP) e Dell, declararam que a desaceleração nas vendas ao consumidor nos primeiros meses do ano derrubou as receitas totais.

“O mercado de computadores continua bifurcado”, disse Leo Apotheker, presidente executivo da HP. “A queda acentuada em nosso segundo trimestre é maior do que havíamos antecipado.”

A HP disse que as vendas de PCs no último trimestre fiscal – que terminou em 30 de abril – caíram 5%, para US$ 9,4 bilhões. A queda de 23% nas vendas de computadores ao consumidor pesou muito mais para a companhia do que o aumento de 13% nas vendas para empresas.

A empresa anunciou aumento de 5% no lucro líquido no trimestre, para US$ 2,3 bilhões, ou US$ 1,05 por ação, contra US$ 2,2 bilhões, ou US$ 0,91, no mesmo trimestre, em 2010.

O faturamento durante o atual trimestre deve ser de US$ 31,1 bilhões a US$ 31,3 bilhões, abaixo das projeções dos analistas – que previam que ele fosse de US$ 31,8 bilhões. O faturamento do ano inteiro está fixado em US$ 129 bilhões a US$ 130 bilhões, com o lucro corrigido de pelo menos US$ 5 por ação, também abaixo das projeções.

Já para a Dell, as vendas de servidores, computadores e dispositivos de armazenamento para empresas continuou ajudando a compensar as fraquezas que têm assolado seu negócio de consumo nos últimos anos.

Brian Gladden, diretor financeiro da empresa, afirmou que as vendas de consumo foram ainda mais fracas do que a companhia esperava para o trimestre. Mas acrescentou que esse mercado responde por apenas 20% do faturamento total da empresa, “uma dinâmica que é realmente boa para nós”.
A Dell anunciou que no primeiro trimestre, o lucro líquido quase triplicou, de US$ 341 milhões, ou US$ 0,17 por ação, para US$ 945 milhões, ou US$ 0,49 por ação. O faturamento cresceu 1%, para US$ 15 bilhões.

E, ainda por cima, as duas empresas também sentiram o efeito dos desastres do Japão. A HP disse que esperava um golpe de US$ 700 milhões no segundo semestre de seu ano fiscal por conta da demanda reduzida por seus produtos, os custos mais altos de componentes e a necessidade de despachar seus produtos por ar e não por mar.

Executivos da Dell disseram que a empresa experimentou rupturas relativamente menores em sua cadeia de suprimento em consequência do terremoto e do tsunami no Japão durante o trimestre.

/TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

OS GAYS E A BÍBLIA - Frei Betto

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos. No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”...).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc). No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países-membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hetero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis, ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão;e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.

FREI BETTO é escritor.(o conteúdo foi encontrado em pesquisa livre na internet, portanto, a autoria atribuída a Frei Betto não foi conferida pelo blogueiro, retirado daqui)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bula do Homem



Bula do Homem

Indicações:
Homem é recomendado para mulheres portadoras de SMS (Síndrome da Mulher Sozinha).Homem é eficaz no controle do desânimo, da ansiedade, irritabilidade, mau-humor, insônia, etc.
Posologia e Modo de Usar:
Homem deve ser usado três vezes por semana. Não desaparecendo os sintomas, aumente a dosagem ou procure outro. Homem é apropriado para uso externo ou interno, dependendo da necessidade da mulher.
Precauções:
Mantenha longe do alcance de amigas (vizinhas solitárias, loiras e/ou morenas sorridentes, etc). Manuseie com cuidado, pois Homem explode sob pressão, principalmente quando associado à álcool etílico. É desaconselhável o uso, imediatamente após as refeições.
Apresentação:
Mini, Max, Super, Mega, Plus ou Super Mega Max Plus (ui!!!)
Conduta na Overdose:
O uso excessivo de Homem, pode produzir dores abdominais, entorses, contraturas lombares, assim como ardor na região pélvica.Recomenda- se banhos de assento, repouso, e contar vantagem para a melhor amiga!
Efeitos Colaterais:
O uso inadequado de Homem, pode acarretar gravidez e acessos de ciúmes.
O uso concomitante de produtos da mesma espécie pode causar enjôo e fadiga crônica.
Prazo de Validade:
Composição:
Instruções Para o Perfeito Funcionamento de Um Homem:
  1. Ao abrir a embalagem, faça uma cara neutra; não se mostre muito empolgada com o produto. Se fica muito seguro de si, o Homem não funciona muito bem, vive dando defeito.
  2. Guarde em lugar fresco( fedorento não dá) e seguro (pois é frágil).
  3. Deixe fora do alcance de amigas…
  4. Para ligar basta uns beijinhos no pescoço pela manhã, para desligar basta uma noite de sexo, ele dorme como uma pedra e nem dá Boa Noite.
    (falta de educação é defeito de fábrica)
  5. Programe-o para assinar talões de cheque sem reclamar.
  6. Carregue as baterias três vezes por dia, café, almoço e janta, mais que isso provoca pneuzinhos indesejáveis.
  7. Em caso de defeito, algumas táticas costumam dar certo:
    • esconda o controle remoto da televisão.
    • corte o futebol com os amigos no final de semana.
    • Cerveja e/ou chopp..
    • greve de SEXO.
ATENÇÃO:
Não contém CEMANCOL. Cuidado!!!
Existem no mercado algumas marcas falsificadas (GENERICAS), a embalagem é, de excelente qualidade, mas quando desembrulhado, verifica-se que não fará efeito nenhum, muito pelo contrário, o efeito é totalmente oposto, ou seja, além de não ser eficaz no tratamento,podem agravar os sintomas.
Homem não tem garantia de fábrica e todas as espécies são sujeitas à defeitos. A solução é ir trocando até que se ache o modelo ideal, contudo recentes pesquisas informam, que este não foi INVENTADO ainda.

Quem acredita na Velha mídia? Alvo não é Palocci, é Dilma

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Folha se precipita e entrega o jogo: alvo não é Palocci, é Dilma

A edição de hoje da Folha entrega o jogo. Todo mundo estava se perguntando o porquê de tanto fogo em Palocci, um homem do mercado, tido por muitos petistas como um "deles". A Folha hoje responde: porque o alvo é Dilma e o governo do PT.

Começa na primeira página, em parte reproduzida aí em cima. "Empresa de Palocci faturou R$ 20 mi no ano da eleição".

Misturando dinheiro de Palocci com dinheiro de campanha pode-se ampliar o leque da investigação, não é, Folha? Se levarmos em conta que Palocci é do PT e foi coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, pode-se especular se o dinheiro seria sobra não-contabilizada da campanha de Palocci, do PT ou de Dilma - mas como diferenciar, não é, Folha? Esse seria o caminho natural do processo. Mas a Folha se precipitou, e, pior, se entregou. Mostro como:

Repare na imagem ao lado. É cópia do que está hoje nesta página da Folha (dei print screen, viu Folha?), que o assinante pode conferir ao vivo aqui. A diferença está nos destaques que dei em amarelo e vermelho, na frase e nas duas estrelinhas. A frase puxa Dilma para a roda: "Receita de consultoria deu salto no ano da eleição de Dilma para Presidente". E as estrelinhas? O que fazem ali as estrelinhas que não estão presentes em nenhuma outra reportagem da Folha de hoje, apenas nesta? Simples coincidência? E que a estrela seja o símbolo do PT é apenas outra coincidência?

Então, ao texto da repórter Cátia Seabra.

A empresa de consultoria do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, faturou R$ 20 milhões no ano passado, quando ele era deputado federal e atuou como principal coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República.
Segundo duas pessoas que examinaram números da empresa e foram ouvidas pela Folha, o desempenho do ano passado representou um salto significativo para a a consultoria, que faturou pouco mais de R$ 160 mil no ano de sua fundação, 2006.

Entendemos, Folha. No ano em que Palocci "atuou como principal coordenador da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República" sua empresa deu um salto.

Mas a comparação é com o ano de 2006, o de criação da empresa. E os outros, 2007, 2008, 2009, qual o faturamento? E, já que vocês tiveram acesso ao papelório, porque não divulgaram os anos anteriores? Por que também se esqueceram de dizer que 2006 também foi ano eleitoral, Lula se reelegeu presidente e Palocci se elegeu deputado federal?

Numa reportagem complementar vem a informação de que a receita da empresa de Palocci é similar à das maiores do ramo no país. Só que nenhuma delas tinha à frente o ex-czar da economia do governo Lula, não é? Alguém que havia recém saído do governo e que pertencia (pertence) ao PT.

Aí vem o fecho, com outra reportagem que afirma: Empreiteira com negócios públicos contratou Palocci (aqui, para assinantes). E vai direto ao assunto:

O grupo WTorre, que fechou negócios com fundos de pensão de estatais e com a Petrobras, foi um dos clientes da empresa de consultoria do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
A empreiteira também fez doações de campanha a Palocci (R$ 119 mil), em 2006, e a Dilma Rousseff (R$ 2 milhões), no ano passado.

A partir daí, a reportagem elenca uma série de contratos do grupo WTorre (que "diz manter ativos de R$ 4 bilhões em 200 projetos"), em anos diferentes, sem dizer em momento algum que qualquer deles teve a participação da empresa de Palocci. Os dados são jogados para que o leitor incauto faça a tal ligação.

Ou seja, o ataque a Palocci era para que ele justificasse o aumento de seu patrimônio? Não, era para fazer com que a Petrobras, Previ, a campanha de Dilma, o governo venham a público justificar por que fizeram tal e tal negócio com tal e tal empresa.

Ah, antes que me esqueça. Ao final da reportagem, envergonhadinha, vem a informação:

Em 2010, além da doação de R$ 2 milhões à campanha de Dilma Rousseff, da qual Palocci era coordenador [esta ligação é o que eles querem deixar claro], também houve aporte para o tucano José Serra (R$ 300 mil), adversário na disputa.

Ou seja, a empresa jogou dinheiro no lixo. Aí Palocci deveria vir a público pelo menos para afirmar que isso não foi resultado de sua consultoria... Queima o filme.

Blog do Mello: Folha se precipita e entrega o jogo: alvo não é Pa...:

Vale a pena ler e refletir

Repassando.


Decisão do Desembargador José Luiz Palma Bisson, do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferida num Recurso de Agravo de Instrumento ajuizado contra despacho de um Magistrado da cidade de Marília (SP), que negou os benefícios da Justiça Gratuita a um menor, filho de um marceneiro que morreu depois de ser atropelado por uma motocicleta. O menor ajuizou uma ação de indenização contra o causador do acidente pedindo pensão de um salário mínimo mais danos morais decorrentes do falecimento do pai.
Por não ter condições financeiras para pagar custas do processo o menor pediu a gratuidade prevista na Lei 1060/50. O Juiz, no entanto, negou-lhe o direito dizendo não ter apresentado prova de pobreza e, também, por estar representado no processo por "advogado particular". A decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a partir do voto do Desembargador Palma Bisson é daquelas que merecem ser comentadas, guardadas e relidas diariamente por todos os que militam no Judiciário.

Transcrevo a íntegra do voto:


“É o relatório.

Que sorte a sua, menino, depois do azar de perder o pai e ter sido vitimado por um filho de coração duro - ou sem ele -, com o indeferimento da gratuidade que você perseguia. Um dedo de sorte apenas, é verdade, mas de sorte rara, que a loteria do distribuidor, perversa por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a mim, com efeito, filho de marceneiro como você, a missão de reavaliar a sua fortuna.
Aquela para mim maior, aliás, pelo meu pai - por Deus ainda vivente e trabalhador - legada, olha-me agora. É uma plaina manual feita por ele em paubrasil, e que, aparentemente enfeitando o meu gabinete de trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de onde vim e com que cuidado extremo, cuidado de artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que me vêm a julgamento disfarçados de autos processuais, tantos são os que nestes vêem apenas papel repetido. É uma plaina que faz lembrar, sobretudo, meus caros dias de menino, em que trabalhei com meu pai e tantos outros marceneiros como ele, derretendo cola coqueiro - que nem existe mais - num velho fogão a gravetos que nunca faltavam na oficina de marcenaria em que cresci; fogão cheiroso da queima da madeira e do pão com manteiga, ali tostado no paralelo da faina menina.

Desde esses dias, que você menino desafortunadamente não terá, eu hauri a certeza de que os marceneiros não são ricos não, de dinheiro ao menos. São os marceneiros nesta Terra até hoje, menino saiba, como aquele José, pai do menino Deus, que até o julgador singular deveria saber quem é.
O seu pai, menino, desses marceneiros era. Foi atropelado na volta a pé do trabalho, o que, nesses dias em que qualquer um é motorizado, já é sinal de pobreza bastante. E se tornava para descansar em casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo, no castelo somente em nome habitava, sinal de pobreza exuberante.
Claro como a luz, igualmente, é o fato de que você, menino, no pedir pensão de apenas um salário mínimo, pede não mais que para comer. Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida, o que você nela tem de sobra, menino, é a fome não saciada dos pobres.
Por conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba mais uma vez, nem por estar contando com defensor particular. O ser filho de marceneiro me ensinou inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de riqueza do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de pureza do causídico. Tantas, deveras, foram as causas pobres que patrocinei quando advogava, em troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como me lembro com a boca cheia d'água, de um prato de alvas balas de coco, verba honorária em riqueza jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que me proporcionou.
Ademais, onde está escrito que pobre que se preza deve procurar somente os advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos...
Enfim, menino, tudo isso é para dizer que você merece sim a gratuidade, em razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos pulmões para quem quer e consegue ouvir.
Fica este seu agravo de instrumento então provido; mantida fica, agora com ares de definitiva, a antecipação da tutela recursal.
É como marceneiro que voto.

JOSÉ LUIZ PALMA BISSON -- Relator Sorteado”


São Juizes como esse, que nos faz continuar acreditando na Justiça

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O EU E O OUTRO COMPARTILHANDO DIFERENÇAS, CONSTRUINDO IDENTIDADES


Ângela Antunes e Paulo Roberto Padilha[2]

Viver é conviver. É se relacionar. Somos seres de relação. Somos incompletos e inacabados. Nós somos incompletos porque sem o outro não existimos. Não há sentido em pensar ‘eu e o mundo’. É preciso pensar ‘eu como um pedaço do mundo’. Esse caráter relacional do ser humano; essa é a grande percepção do humanismo do Paulo Freire. Nisso consiste a incompletude. E inacabado não significa a mesma coisa. Inacabado quer dizer ‘eu sou o movimento de estar sendo’, eu não sou alguma coisa que se completou. Nós somos incompletos porque relacionais, porque a gente não existe sem a relação. Somos incompletos porque parte de um todo dinâmico. Não existimos sem aquele com quem nos relacionamos, sem meio, sem a biosfera da qual somos uma emergência, mas também somos incompletos porque somos um fluxo, nós indivíduos e nós espécie, nós vida.

Homens e mulheres, na sua incompletude e na sua relação com o mundo e com outros seres, buscando dar respostas aos desafios, às questões de seu contexto, constroem conhecimentos. Para Paulo Freire, o conhecimento é resultado desse processo, dessa construção coletiva. Homens e mulheres: negros, brancos, pobres, índios, portadores de deficiência, homossexuais etc. todos educam; todos ensinam e aprendem. Por isso afirma que “Ninguém educa ninguém. Os homens se educam em comunhão” (FREIRE, 1981:79). Educação, em Paulo Freire, é a prática de uma teoria do conhecimento. Ao se deparar com um problema, o ser humano se questiona, questiona outros seres humanos, pesquisa, busca respostas possíveis para solucionar o desafio que está à sua frente, testa suas hipóteses, confirma-as, reformula-as, nega-as, abandona-as, retoma-as etc. Por meio desse movimento, realiza o esforço da aprendizagem para construir o seu saber, relacionando conhecimentos anteriores aos atuais, ampliando, construindo novos conhecimentos, novos saberes. A cada solução, novos problemas se impõem. Estas respostas, as experiências que vai acumulando ao buscá-las, constituem o conhecimento de um indivíduo ou de um grupo. Nesta concepção, o conhecimento nasce da ação, da relação entre os seres humanos e destes com o mundo. Da sua intervenção no mundo, novos conhecimentos vão sendo construídos. Não há ser humano que não aja no mundo. Todos, de alguma forma, agem e buscam respostas para suas necessidades, por isso não há ser humano vazio de conhecimento, de cultura. Há graus e níveis de conhecimento e saberes diferenciados, mas não há quem nada saiba.

O que diferencia o ser humano dos outros seres é sua capacidade de dar respostas aos diversos desafios que a realidade impõe. Mas essa apreensão da realidade e esse agir no mundo não se dão de maneira isolada. É na relação entre homens e mulheres e destes e destas com o mundo que uma nova realidade se constrói e novos homens e mulheres se fazem. Criando cultura. Fazendo história.

A partir das relações do homem com a realidade resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura (FREIRE, 1999:51).

Ao fazer cultura, não basta constatarmos as diferentes manifestações problemáticas advindas da convivência humana; cumpre-nos interpretar profundamente a multirreferencialidade dos problemas e das nossas diferenças, visando ao alcance, o mais possível, do entendimento que buscamos. Para enfrentar tal desafio, não é possível estar só porque, pelo olhar do outro, enxergamos e nos conhecemos melhor. Cabe-nos, cada vez mais, voltar o nosso olhar não só para a nossa própria identidade – ou para as nossas múltiplas identidades - que estão sempre em processo, mas para as identidades dos outros sujeitos e grupos com os quais convivemos. Se isso acontece na dimensão da vida de cada pessoa, o mesmo se dá quando olhamos para as relações estabelecidas no âmbito grupal ou, no caso que aqui também nos interessa em particular, no contexto escolar.

Cada pessoa traz uma herança cultural significativa, experiências e práticas, valores, características e formação específica para o exercício de suas funções e para o viver de sua própria existência, e isso determina a comunicação que trava no seu cotidiano, em todos os níveis e dimensões. Estamos falando de relações que se dão entre sujeitos que decidem construir contextos e processos de aproximação, de conhecimento recíproco e de interação. Relações que produzem mudanças em cada indivíduo, favorecendo a consciência de si e reforçando a própria identidade. Sobretudo, [que] promovem mudanças estruturais nas relações entre grupos. Estereótipos e preconceitos – legitimadores de relações de sujeição ou de exclusão – são questionados, e até mesmo superados, na medida em que sujeitos diferentes se reconhecem a partir de seus contextos, de suas histórias e de suas opções.

(Fleuri, 2001:55-56)

Somos assim, enquanto educadores e educadoras, provocados a pensar no desafio da inclusão, no trabalho do professor com a diferença e nas possibilidades que temos de trabalhar sistematicamente contra a exclusão na escola e na sociedade. É nessa direção que encaminharemos esta reflexão.

1. Constatando a exclusão para buscar a inclusão

Convivemos com os fenômenos da desigualdade e da exclusão social. Tais fenômenos têm em comum o fato de serem, ambos, “sistemas de hierarquização social” (STOER & CORTESÃO, 1999:15). No entanto, existem entre elas diferentes características: enquanto a desigualdade, que tem como o seu grande teórico Karl Marx, é predominantemente um fenômeno sócio-econômico e se caracteriza pela “integração subordinada”, os processos e as situações de exclusão, teorizados por Foucault, acontecem quando há decisões de afastamento, de expulsão e de eliminação dos grupos minoritários, sendo “freqüentemente informada por características sócio-culturais” (id.).

Por outro lado, observamos que, enquanto a desigualdade integra e submete, pois

os seus mecanismos permitem a coexistência do dominante com o grupo submetido no mesmo espaço/tempo, desde que este último seja dócil e silencioso (...) a exclusão vai sendo construída através do estabelecimento de limites e de regras que não poderão ser transgredidas e a partir das quais, arbitrariamente, será estabelecido o que é normal e o que é aceitável e também o que é desviante, portanto proibido (...) Assim será eliminado quem não se situa dentro do estabelecido como sendo normal, e quem transgride os limites do aceitável (Stoer & Cortesão, 1999:15).

Falamos de uma escola que trabalha cotidianamente, no seu currículo, com os processos de educação informal e não formal presentes na sociedade, e com os problemas relacionados à desigualdade social e à exclusão social e cultural com os conflitos surgidos fora e dentro dela. Dentre esses problemas temos, por exemplo, a discriminação racial, a falta de relação e flexibilidade entre os diferentes grupos sociais para conviverem com as suas diferenças; os dilemas da igualdade, da diversidade e da diferença, a questão das diferenças étnicas, das relações de gênero, as diferenças geracionais, a questão das diferenças mentais e físicas entre as pessoas, sobretudo aquelas geralmente identificadas como deficientes, excepcionais ou, mais recentemente, portadoras de necessidades educacionais especiais ou, simplesmente, de direitos especiais. Nesse sentido, a escola precisa se abrir, efetivamente, para as questões da integração dos excluídos. Mais do que a integração, é necessária e urgente a inclusão.

Compreendemos a integração como a abertura de espaço para que alguém faça parte de um grupo. Mas, mais do que fazer parte, destacamos a necessidade de “tomar parte”. Decidir junto, construir sentimento de pertencimento, reconstruir o espaço, a convivência, considerando os desejos, as expectativas, as necessidades, os interesses de todos que compõem o grupo. Integração é um processo no qual a pessoa é capaz de participar da escola ou de outro espaço do jeito que ele está organizado. Já a educação inclusiva é uma proposta de tornar a escola acessível, garantindo a participação de todas as pessoas. Incluir não significa “guetizar”; criar lugares reservados e exclusivos para determinados grupos, mantendo-os à parte. À escola que se propõe inclusiva não basta afirmar que não expulsa os alunos. É preciso acolher sem segmentar, sem determinar: aqui é a sala dos surdos, aqui a dos mais atrasados... A inclusão diz respeito a ocupar todos os espaços, a conviver valorizando as relações interculturais que promovem o enriquecimento de todos. Ao falarmos de inclusão, não estamos nos referindo apenas à inclusão de portadores de necessidades especiais. A educação cidadã é aquela que inclui, no processo de ensinar e aprender, educandos e educandas, com e sem necessidades educativas especiais. Ela se prepara, tanto em termos físicos (mobiliário, espaço físico etc.) quanto em termos pedagógicos para receber e atender todo tipo de aluno, respeitando suas diferenças e educando de acordo com o ritmo e com as possibilidades de cada um, que não são pré-dados, mas resultado de construção histórica, social e cultural. A inclusão diz respeito à aceitação e participação de todos no contexto social. Ela se opõe à segregação de quaisquer pessoas, sejam elas portadoras de algum tipo de deficiência, de desvantagem física ou mental, sejam elas pobres, índias, negras, mulheres, nordestinas etc.

2. O que significa respeito às diferenças?

Queremos, de fato, incluir os nossos alunos e os nossos professores num processo educacional que respeite a todas as pessoas. Daí ser importante refletir sobre o significado de diversidade cultural, de diferença cultural e também reconhecermos como temos tratado a oposição igualdade/diferença, o que gera uma oposição dicotômica, que precisa ser superada na escola e na educação em geral.

Como afirma Joan Scott, é necessário “que se desconstrua a oposição igualdade/diferença como única via possível, chamando atenção para o constante trabalho da diferença dentro da diferença (...) a ‘mesmidade’ construída em cada lado da oposição binária oculta o múltiplo jogo das diferenças e mantém sua irrelevância e invisibilidade” (Scott,1988:45).

É justamente tentar desocultar as ‘mesmidades’ e enfrentar o difícil desafio de superar as lógicas binárias e os argumentos dicotômicos em educação, sobretudo nos dias atuais, que observamos ser necessário, quando falamos, hoje, numa educação e numa atuação da escola que tenham por referência a perspectiva cultural e, como aqui estamos queremos anunciar, uma dimensão intertranscultural. Como diz Homi Bhabha,

nenhuma cultura é jamais unitária em si mesma, nem simplesmente dualista na relação do Eu com o Outro. Não é devido a alguma panacéia humanista que, acima das culturas individuais, todos pertencemos à cultura da humanidade; tampouco é devido a um relativismo ético que sugere que, em nossa capacidade cultural de falar sobre os outros e de julgá-los, nós necessariamente ‘nos colocamos na posição deles’, em um tipo de relativismo da distância sobre o qual Bernard Williams tanto escreveu (Bhabha:1998:65). Grifos nossos.

Não se trataria de tomar uma experiência cultural qualquer como pré-dada ou pré-existente para, passo-a-passo, como se estivéssemos utilizando as lentes de um possante microscópio, analisarmos cientificamente aquele “objeto” científico, devidamente enquadrado no tempo e no espaço para a nossa observação, a partir da qual desvelaríamos cada vez mais os diversos aspectos da diversidade cultural nossa ou do outro.

Ao se referir à diversidade cultural, Homi Bhabha adverte sobre o risco de mantermos tal conceito de forma temporal e relativista, o que tem justificado, por exemplo, noções liberais de multiculturalismo, que poderia sugerir a separação de culturas que, intocadas, manteriam as suas próprias características. Teríamos uma diversidade no isolamento das próprias culturas. E isso não interessa à educação cidadã, que respeita, convive e trabalha com a diferença.

Quando operamos no contexto das práticas escolares, preferimos trabalhar com o conceito de “diferença cultural”, entendida como um “processo de enunciação da cultura como ‘conhecível’, legítimo, adequado à construção de sistemas de identificação cultural (Bhabha, 1998:63).

“O conceito de diferença indica uma nova perspectiva epistemológica que aponta para a compreensão do hibridismo e da ambivalência, que constituem as identidades e relações interculturais” (Fleuri, 2002:3). O nosso interesse nesta análise, remonta ao entendimento do conceito de “entre-lugares” também desenvolvido por Bhabha (1998). Entre-lugar nos remete à compreensão dos “contextos intersticiais que constituem os campos identitários, subjetivos ou coletivos, nas relações e nos processos interculturais” (Fleuri, 2002:3). (Grifos nossos). Esta compreensão de “entre-lugares” nos ajuda no estudo dos textos, dos contextos e das relações que se estabelecem nos processos educacionais/curriculares que chamamos de intertransculturais. Aqui destacamos a possibilidade de aprender – e- ensinar com sentido, valorizando a experiência feita e a experiência que se faz e se refaz no contato com as outras pessoas. Estamos defendendo uma escola inclusiva e com mais sentido para todos os sujeitos.

A educação intercultural contribui para que possamos alcançar o que acabamos de defender. Ela consiste na criação de situações espaciais e temporais, concretas e específicas, para o encontro das diferentes pessoas e das diferentes culturas. Além disso, podemos também organizar a nossa práxis educacional na perspectiva intertranscultural que, por sua vez, faz referência a elementos culturais comuns e também aos chamados traços universais entre as culturas (das idéias aos sentimentos, às emoções, às formas de criatividade etc), que nos pertencem como espécie humana (Duccio Demétrio, 1997). Nesse sentido, quando, na escola, estivermos trabalhando a relação intertranscultural, procuraremos efetivamente reconhecer os valores coincidentes das pessoas, as suas diferenças, as diferenças que se encontram ocultas nas próprias diferenças antes desveladas, as particularidades e as universalidades existentes nas diferentes culturas. Isso nos permitira superar o “daltonismo cultural” ainda muito presente em nossas escolas, contribuindo, assim, para que o processo de ensino e de aprendizagem seja mais curioso, alegre e aprendente, porque nascido das suas efetivas experiências culturais, reveladas nos espaços e tempos interculturais criados pela instituição escolar.

3. Uma escola com sentido: por uma educação emancipadora

A escola necessária em tempos de exclusão, numa perspectiva emancipadora, é aquela que lê o mundo e elege o ser humano como projeto, que contribui para criar condições locais, nacionais e planetárias para a globalização dos direitos, da integração cultural, da democratização do acesso às conquistas da humanidade, da cidadania.

A escola cidadã, inclusiva, seria a escola onde os professores seriam jardineiros, como propõe Rubem Alves (in Folha de S. Paulo, 27 de maio de 1998). “O que está no início, o jardim ou o jardineiro?”, pergunta ele. “É o segundo”, responde ele. “Havendo um jardineiro, cedo ou tarde, um jardim aparecerá. Mas um jardim sem jardineiro, cedo ou tarde, desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro”. “Nossas escolas”, continua Rubem Alves, “têm se dedicado a ensinar o conhecimento científico, com todos os esforços para que isso aconteça de forma competente. Isso é muito bom. A ciência é indispensável para que os sonhos se realizem. Sem ela, não se pode plantar nem cuidar do jardim. Mas há algo que a ciência não pode fazer. Ela não é capaz de fazer os homens desejarem plantar jardins. Ela não tem o poder para fazer sonhar. Não tem, portanto o poder para criar um povo. Porque o desejo não é engravidado pela verdade. A verdade não tem o poder de gerar sonhos. É a beleza que engravida o desejo. São os sonhos de beleza que têm o poder de transformar indivíduos isolados num povo”. Para isso, como diz Rubem Alves, a beleza é fundamental. Não bastam volumosos e belos “parâmetros curriculares”. É preciso que a escola tenha beleza, seja um espaço educador, construído como um jardim, para criar as condições das novas relações sociais e humanas, das novas relações inter-pessoais, relações sustentáveis.

Mais do que em outros tempos, devido às novas tecnologias informacionais, ao intenso fluxo de informações e comunicação, nossas “classes” precisam ser substituídas pelos “círculos de cultura”; os “alunos” pelos “participantes dos grupos de discussões”; os “professores” devem ceder lugar aos “coordenadores de debates”. De igual modo, a “aula” precisa ser substituída pelo “debate” ou pelo “diálogo” entre educador e educandos e o “programa” por “situações existenciais” capazes de desafiar todos os envolvidos no processo educativo e de levá-los a assumir posições de reflexão e crítica diante das condições dessa mesma existência.

Educar para a inclusão é não separar o lugar e o tempo de aprender do lugar e do tempo de ensinar. Onde e quando se aprende, também se ensina. E todos ensinam e aprendem. Nesse processo, o papel do educador é dar sentido a essa construção. A formação não pode se dar no vazio.

Educar para a inclusão é proporcionar encontros e construção de vivências intertransculturais. É tecer as redes entre os diferentes. Educar para a inclusão é manter vivo o posto de “guardião da utopia”, da dúvida, da incerteza, da possibilidade. E isso, inclui, certamente, a necessidade de formação continuada do/a professor/a, como forma de reflexão crítica sobre a prática para que, ao mesmo tempo, ele possa fundamentar e construir novas teorias que ressignifiquem o próprio conhecimento com o qual trabalha no seu dia-a-dia. (Gadotti, 2002).

Por outro lado, é importante que a formação continuada e permanentes dos educadores e das educadoras, seja realizada, na atualidade, com base no entendimento da multiculturalidade enquanto criação histórica que, como tal, exige de todos nós o estabelecimento democrático e coletivo de fins comuns para uma convivência ética. Nessa perspectiva, a educação é instância propícia e espaço privilegiado para a realização da convivência e das trocas entre as diferentes culturas, o que se torna possível com a criação de espaços interculturais e intertransculturais, onde a multiculturalidade se fará presente e, por conseguinte, estabelecerá, num primeiro momento, o que Freire chama de “unidade na diversidade” (1994:157) e, num segundo instante, a luta pela construção de uma sociedade que fala de paz mas que, para tanto, antes dela e mesmo como seu pressuposto, faz justiça.

Se pensarmos especificamente no âmbito da educação e considerarmos algumas experiências concretas que têm por referencial teórico a práxis de Paulo Freire, podemos afirmar que a educação continuada do professor, visando à formação para e pela cidadania, deve se pautar pela “validade universal de teoria e da práxis de Paulo Freire” (GADOTTI, 2001:78-81). Ao mesmo tempo, que possa se realizar na perspectiva intertranscultural[3], que tem por objetivo último um processo educacional pautado pelas relações multiculturais, que respeite e conviva com a diferença, com as múltiplas identidades dos alunos e dos professores, visando à solidariedade emancipatória, à justiça e à inclusão social, educacional e cultural de todas as pessoas.

Bibliografia

ANTUNES, Ângela. Aceita um conselho? Como organizar o colegiado escolar. São Paulo, Cortez/IPF, 2002.

ANTUNES, Ângela. Leitura do mundo no contexto da planetarização: por uma pedagogia da sustentabilidade. São Paulo. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2002 (Tese de doutorado).

BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

DEMETRIO, Duccio. Agenda Interculturale, Maltemi: Roma, 1997, p. 40.

FLEURI, Reinaldo Matias. A questão da diferença na educação: para além da diversidade. In: 25ª Reunião Anual da ANPEd, Resumos. Caxambu, ANPed, GT 06 Educação Popular, p. 1-15, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FREIRE, Paulo. Cartas a Cristina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994b.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Ed. UNESP, 2000.

FREIRE, Paulo. Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez/IPF, 2001

FREIRE, Paulo. Política e educação. 6. ed. São Paulo, Cortez, 2001b.

GADOTTI, Moacir. Diversidade cultural e educação para todos. Rio de Janeiro: Graal, 1992.

GADOTTI, Moacir. Um legado de esperança. São Paulo: Cortez, 2001.

GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar – e – aprender com sentido. São Paulo, s.e., 2002.

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento educacional: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo, Cortez/IPF, 2001.

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[1] Texto produzido para o V Seminário Nacional de Educação “Utopias Humanas: sonhos! Liberdade, inclusão e emancipação. Por que não? para apresentação em 21.05.2004 em Caxias-RS.

[2] Ängela Antunes é mestre e doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP e diretora pedagógica do Instituto Paulo Freire. È autora do livro Aceita um conselho? Como organizar o Colegiado Escolar. São Paulo, Cortez/IPF, 2002. Paulo Roberto Padilha é mestre e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP e diretor pedagógico do Instituto Paulo Freire. È autor dos livros Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo, Cortez/IPF, 2001 e Currículo intertranscultural: novos itinerários para a educação. São Paulo, Cortez/IPF, 2004.

[3] A esse respeito, vide livro de Paulo Roberto Padilha, intitulado Currículo intertranscultural: novos itinerários para a educação. São Paulo, Cortez/IPF, 2004.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

INTERNETS



RONALDO LEMOS - ronaldolemos09@gmail.com

Skype começou pirata e agora é da Microsoft

O GRANDE evento de tecnologia na semana passada foi a compra do Skype pela Microsoft. Por 8,5 bilhões de dólares (preço inflacionadíssimo), a gigante levou a empresa que permite fazer chamadas gratuitas, videoconferência e ligações telefônicas pela internet.
O que pouca gente se lembra é a origem do Skype. Ele foi feito pelos mesmos criadores do Kazaa, o software de compartilhamento de arquivos usado por milhões de pessoas depois do fechamento do Napster.
O Kazaa inventou um modelo de troca de arquivos descentralizado. A mesma tecnologia, acusada por muitos de "pirata", serviu de base para o Skype. Tanto que o seu nome original era "Sky peer-to-peer" (algo como "de usuário para usuário", em tradução livre).
Esse é um caminho comum em inovações tecnológicas: quando uma nova tecnologia surge, ela é acusada de "pirata" e, algum tempo depois, legitima-se e se torna cultuada.
Quando surgiu o videocassete, a indústria do cinema dizia que ele era tão perigoso quanto o "estrangulador de Boston", pois permitia fazer cópia de filmes. Oito anos depois, a receita com aluguel de fitas representava mais de 70% do faturamento de Hollywood.
O mesmo aconteceu com o YouTube. Quando apareceu, foi acusado de ser uma ferramenta de violação de direitos autorais. Hoje crescem as parcerias do site com a indústria musical e com Hollywood, que acabou de anunciar que vai distribuir filmes através dele.
E vale lembrar que Steve Jobs, da Apple, começou sua carreira como hacker, desmontando computadores para copiar o que tinha dentro e manipulando as redes de telefone dos EUA para não pagar as chamadas.
Resta saber se a compra do Skype pela Microsoft vai congelar o serviço ou fazer com que ele desapareça no meio dos produtos da empresa. Ainda bem que hoje são muitas as alternativas. Para quem quiser fugir, uma lista aqui: bit.ly/g8b7Kk.

Bloguemus Quae Sera Tamen: Ainda que tardia!

Bloguemus Quae Sera Tamen: Ainda que tardia!: "Em Minas Gerais se fazem as coisas quando já estão extensa e profundamente pensadas, amadurecidas e não seria diferente com nosso encontr..."

Comércio exterior: um desafio permanente

Publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 15 de maio de 2011

Fernando Pimentel*

Na semana que passou, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) adotou medidas com relação às importações do chamado “grupo veículos”, com a inclusão desses produtos no regime de licenciamento não automáticos. Ao suspender o caráter instantâneo da importação de automóveis, o objetivo é permitir um monitoramento apurado dessas operações, de modo a acompanhar sua evolução. Desta forma, o ministério lança mão de um instrumento legítimo, previsto nas regras da Organização Mundial de Comércio (OMC), que permitirá uma avaliação mais precisa da dinâmica desse mercado.

De fato, se compararmos dados de janeiro a abril de 2010, com o mesmo período deste ano, observa-se um significativo aumento do déficit na balança de veículos automotivos, cujo saldo negativo passou de US$ 789 milhões para US$1,9 bilhão. Com um dos maiores parques automotivos instalados no mundo, o Brasil produz 3,5 milhões de unidades ao ano e é o quarto mercado consumidor de veículos (dados de 2010). Trata-se de uma indústria estratégica para a economia nacional devido à extensa e densa cadeia produtiva do setor.

Ressalte-se que a inclusão em regime de licenciamento não automático não implica que os produtos importados terão ingresso restrito no Brasil. Na verdade, a prática recente, no caso brasileiro, demonstra que o MDIC tem sido ágil na análise das licenças, com uma média de tempo de liberação inferior ao exigido nos acordos internacionais. Sendo assim, a medida certamente não comprometerá o comércio do Brasil com outros países. Somos um país de economia aberta, dotado de sistemas avançados de tratamento administrativo e aduaneiro, que permitem que produtos de qualquer país do mundo acessem o mercado nacional.

Em relação à abrangência da medida, foram incluídas em licenciamento não automático as importações do “grupo veículos” provenientes de todo o mundo. Não procede, portanto, a interpretação desta medida como uma forma de retaliação do Brasil à Argentina. É inegável que o setor privado brasileiro vem enfrentando uma série de dificuldades para a exportação de produtos ao país vizinho.

Contudo, estes atritos são reflexos naturais de uma relação comercial volumosa e consolidada. Neste contexto, temos insistido em uma solução negociada para problemas que afetam importantes segmentos do setor produtivo, como é o caso, por exemplo, de calçados, alimentos, linha branca, máquinas agrícolas e colheitadeiras, entre outros.

Desde o início, temos deixado evidente o compromisso com o estímulo à competitividade da indústria nacional, com o esforço para diversificar as exportações brasileiras e ampliar mercados, com a defesa das nossas empresas contra práticas desleais e ilegais de comércio. Recentemente anunciamos a adoção preferencial da chamada “margem cheia” em medidas de defesa comercial - com a imposição do valor mais alto no cálculo do direito antidumping – e a inclusão imediata em licenciamento não automático dos produtos sob investigação.

Já nesta semana que se inicia, será aberto, pela primeira vez na história do País, um processo de investigação de triangulação, para apurar se, após aplicação de medida antidumping, houve tentativa de contornar a aplicação da penalidade.

As ações fazem parte dos compromissos assumidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior para a criação de um ambiente de negócios que favoreça a inovação, a competição leal e a produtividade. Como se vê, estamos fazendo todo esforço para defender o espaço conquistado pela indústria nacional. Não se trata em absoluto de um retorno às práticas protecionistas ou mesmo da imposição de barreiras ao comércio. Estamos sim, exercendo o direito legítimo de monitorar o comércio exterior e garantir a justa competição no mercado nacional.

*FERNANDO PIMENTEL É MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

terça-feira, 10 de maio de 2011

Dito e Feito - Reflexão da Semana

À mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta

por Joanna de Assis

Hoje em dia, a afirmação é usada em palestras de marketing para dizer, por exemplo, que um restaurante deve ser como a mulher de César. De que adianta o estabelecimento ter comida de qualidade e bom atendimento, mas parecer uma espelunca? Na política, usa-se para dizer que os governantes, além de serem honestos, precisam agir como tal. A frase original surgiu após um escândalo em Roma, por volta de 60 a.C., envolvendo o homem mais poderoso do mundo, sua mulher e um nobre pretendente.

Pompéia vivia muito sozinha, enquanto o marido Júlio César passava meses com seus exércitos. É nesse cenário perfeito para as fofocas que surge Clódio, um nobre admirador da moça. “Numa noite, para conseguir se aproximar de Pompéia, ele entrou no palácio disfarçado, mas acabou se perdendo pelos corredores e sendo descoberto e preso”, diz a historiadora Maria Luiza Corassin, da Universidade de São Paulo.

O jovem foi levado ao tribunal e o próprio César convocado para prestar esclarecimentos. “Ele declarou ignorar o que se dizia sobre sua mulher e a julgou inocente”, afirma Maria Luiza. O penetra foi absolvido, mas Pompéia não se livrou do ostracismo e do repúdio do marido. Para quem o acusava de estar sendo contraditório, ao defender a mulher no tribunal e condená-la em casa, ele teria afirmado: “Não basta que a mulher de César seja honrada, é preciso que sequer seja suspeita”.

Fonte: Aventura na História

Canção do Tamoio

Gonçalves Dias

I

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.