sábado, 14 de janeiro de 2012

A mídia e a síndrome do amor bandido


Por Luis Nassif, em seu blog:

Dias atrás li a Dora Kramer se queixando no Twitter de que as acusações contra Fernando Bezerra não tinham eco na oposição porque muitos tucanos sonham com a candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos.

A consequência era previsível. Hoje o Estadão ataca Campos, chamando-o de coronel por ter sido presumivelmente responsável pela indicação de parentes para cargos no Estado. A matéria acusa Campos de atropelar a Constituição e tem como fonte exclusiva Jarbas Vasconcellos, o magoadíssimo Jarbas, que compara Campos a um ditador implacável. O repórter admite dificuldades em localizar outros oposicionistas dispostos a criticar um governador que tem recordes de aprovação e admiradores até na oposição, além do meio privado - Jorge Gerdau é fã incondicional da capacidade administrativa de Campos.



Agora, a Eliane Cantanhede informando que o PT não tem candidato para as eleições de 2018. Poderia olhar mais longe e afirmar que nem para 2022. E, talvez, nem para 2026.

Trata Campos como um "trator", por eleger a mãe para o TCU. Não dá exemplos dos atos de tratoragem. As de Serra consistem em dossiês e alimentar a imprensa para ataques à reputação. Ou alguém hoje em dia tem dúvida de que a suposta história do Aécio batendo na namorada não saiu dos esquemas de disseminação de injúrias de Serra? Mas a relativização de ações graves dos aliados, assim como a dramatização de ações menores dos "inimigos" (qualquer um que ameace o espaço do aliado), faz parte dessa perda de rumo atual da mídia.

O curioso é que as "acusações" saem simultaneamente na reportagem e nas colunas. Nem se espera mais a publicação para "repercutir".

"Acusa" Campos de estar com um pé em cada canoa, sem se dar conta de que nesse exato momento - sob os olhos gerais - está sendo moldado um novo desenho político, um rearranjo geral e irrestrito da situação e da oposição. As placas tectônicas da política se movimentam como nunca o fizeram desde a redemocratização. Há um novo desenho sendo construído, com alguns atores iniciais relevantes, mas ainda naquela fase pré-modelagem em que alianças são testadas, lideranças postas à prova, novos discursos sendo gestados.

Enfim, um quadro riquíssimo, exigindo analistas argutos, capazes de vislumbrar em que rios esses afluentes irão desembocar, quem serão os novos atores principais, quais as potencialidades e vulnerabilidades de cada um, quais as alianças possíveis.

Mas Eliane só consegue enxergar pessoas com um "pé em cada barco", a parte mais visível e óbvia de um cenário em transformação.

O jogo anterior já acabou, mas não se dão conta. O político José Serra acabou. E quanto mais tempo demorarem para admitir, mais estarão asfixiando uma nova oposição e fortalecendo o governo que pretendem combater.

A blindagem de José Serra acabou. Em qualquer nova campanha, haverá levantamentos sobre sua vida pública, dos precatórios de Montoro, às importações de equipamentos médicos daquele período, aos sanguessugas da Saúde e às operações atuais. E, depois do livro de Amaury Ribeiro Jr, todos seus pecados - que não são poucos - ganharão nova leitura. Saiam do aquário e conversem, não com adversários, mas com antigos admiradores de Serra, no campo intelectual e/ou empresarial.

Às vezes esse comportamento de parte da mídia me lembra muito a síndrome do "amor bandido" - entendido como a atração trazida pelo sujeito, não necessariamente bandido, mas sem limites.

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