sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Câmara Municipal BH: orgulho, honra e vergonha

Antônio de Pádua Galvão*


A Praça Sete é pública. Lugar de concentração, travessia, manifestação, movimento e indignação. Tomando meu clássico cafezinho pela manhã no tradicionalíssimo Café Nice, fui abordado por um senhor de cabeça branquinha e com uma voz cheia de revolta: “Afinal o que você andando fazendo na Câmara Municipal? Todo mês aparece escândalo. Desse jeito o povo fecha aquela casa!”. Tão espontânea quanto sua pergunta, minha reação foi imediata: “É a casa do povo, casa da liberdade de expressão. Tem muita gente honrada trabalhando pela cidade”. Fez-se um silêncio. Saí de lá para meus afazes profissionais, andando e dialogando comigo mesmo.

Não é justo enfiar todos os trabalhadores públicos neste saco de decepção. O servidor é, sobretudo, sinônimo de valentia, força moral, intelectual e física. Um cidadão justo percebe nitidamente quando é atendido por um agente público comprometido em solucionar a sua demanda e angústia, seja da poda de árvore, questões sobre o IPTU, limpeza, coleta de lixo, farmácia pública, acesso à escola, pavimentação de vias, etc.

Servir ao povo é uma vocação. É necessário um olhar especial sobre o ser humano e as coisas públicas. Não é ofício para qualquer um, sem inspiração e traço de caráter. Venho de uma família de servidores públicos. Meu avô e meu pai trabalharam na Rede Ferroviária/Central do Brasil. Foram transportadores públicos de gente e das riquezas da terra. Já estamos nesta labuta há três gerações o que representa aproximadamente um século de lavra pública. Isso é motivo de orgulho e respeito pela administração pública e pelos cidadãos.

Todos esses anos trabalhando nas repartições, divisões, seções e diretorias públicas, testemunhamos muitos trabalhadores honrados e abnegados. Agora estamos vivendo num ambiente de purgatório e inferno moral, permeado pela vergonha. O rosário de encrenca que brota, denuncia processos judiciais e administrativos contra agentes públicos e políticos, causa constrangimento. E não é exclusividade desta Câmara, longe de mim afirmar isso. As denúncias são assuntos recorrentes nas manchetes e noticiários. Textos de jornalistas e promotores denunciam corrupção, venda de votos, “mensalinho”, assédio, abuso de poder, afagos de lobistas, desmandos, suspeita de venda de droga, propaganda pessoal e até churrasco com verba pública. Verdade? Mentira? Perseguição política? Os fatos precisam ser cuidadosamente apurados para se fazer justiça, sem linchamento e com direito de defesa.

Esse turbilhão é péssimo para as jovens gerações, pois passa uma mensagem distorcida que a atividade pública é lugar de gente sem limite e sem ética. Não se nasce corrupto. Não se nasce mau caráter. Trata-se de um (des)aprendizado e a impunidade é fermento desta vergonhosa cultura.

Precisamos eleger melhor os políticos. Selecionar e admitir na carreira pública profissionais com vocação para essa atividade. Produzir debates, seminários com o tema “Moral Privada e Ética Pública”. O essencial é tirar das páginas policiais os assuntos públicos e colocá-los nos editorias e artigos que dignificam e honram a atividade política.

*Antônio de Pádua Galvão é Economista e Psicanalista. galvaoconsultoria@terra.com.br/Twitter: @galvaopadua

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