sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Praça Sete: arena das lutas sociais

Antônio de Pádua Galvão*
A Praça Sete é palco dos movimentos sociais e manifestações políticas. Nesse espaço escancara a revolta, deixando o estômago embrulhado pelas injustiças. O ar aprisionado no peito suplica liberdade. As mãos ficam trêmulas em sentido de combate. O espírito revolucionário toma conta da atmosfera urbana. Todo militante de Belo Horizonte berrou, entoou palavras de ordem, ouviu e discursou, aplaudiu e gritou “o povo unido jamais será vencido!”, “fora, presidente!”, “fora, governador”, “fora, prefeito!”, “fora, Rede Globo!”, “fora, tirania!”, “fora, miséria!”, “fora, desigualdade!”.

Nestas últimas décadas, participei de muitos movimentos e fui testemunha de outros mais. Quase sempre, antes e depois da passeada, passo pelo Café Nice para beber uma água e o tradicional e delicioso cafezinho. E nessas ocasiões não deixo de comentar e ouvir opiniões: “Belíssima passeata, justa reivindicação. Este povo me dá orgulho, sabe lutar”. De vez em quando ouço “Por que será que este bando de folgados não faz bagunça em outro lugar da cidade? Olha como fica o trânsito! Se eu pudesse dava coro e borrachada nesse pessoal. Desordeiros”. Dessa forma vamos construindo esta cidadania tardia, mas sempre urgente e essencial.

A manifestação é uma espécie de desabafo cívico e ato de comunhão para com os indignados, miseráveis e vítimas da desigualdade social. Desde a minha juventude, no final da década de 70 e início dos anos 80, participo ativamente das manifestações. Vêm em minha mente e no meu coração as lembranças. A luta contra a ditadura, o brado com o refrão: “vai acabar, vai acabar a ditadura militar”; “anistia ampla geral e irrestrita, já”. Os movimentos dos operários da construção civil, a luta dos estudantes pela redução da mensalidade, meio passe; a greve dos praças da Polícia Militar; donas-de-casa; a luta das mulheres pela emancipação; combate à homofobia; marcha dos excluídos; a luta anti-manicomial; greves dos professores, bancários, marceneiros, rodoviários; carreatas; comícios; atos políticos; a briga dos perueiros com a tropa de choque da PM; a correria dos ambulantes e camelôs; e tantos outros acontecimentos reivindicatórios.

Participar intensamente, convocar e organizar uma passeata é uma experiência emocionante e enriquecedora. Todo jovem deveria ser estimulado a engajar numa causa. Desenvolver a sensibilidade para combater o poder envelhecido e paralisante de privilégios. Agregar gente de boa vontade, cerrar fileira, gritando por mais pão, saúde e educação para todos, com qualidade.

Durante uma passeata a gente sente o maior orgulho ao ver a multidão de companheiros e companheiras unidos, a população aplaudindo e aderindo ao cortejo de cidadania. Todo revolucionário precisa de uma boa dose de ideologia, reuniões políticas e uma passeata para encorajar e aferir o apoio que recebe do povo. Quem não tem causa, não sopra esperança. Quem não se compromete em lutas sociais, não sabe o destino dos injustiçados. Quem não batalha por liberdade, ainda não desejou ser emancipado.

*Antônio de Pádua Galvão é economista, psicanalista e professor.

Twitter: @galvaopadua




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